LIDERANÇA INTEGRADA: GERIR DESENVOLVER E MOBILIZAR

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“Num mundo de fluidez e imprevisibilidade, emerge a necessidade de um Líder Integrador, capaz de mobilizar, inspirar e desenvolver o seu entorno.”

Eu me lembro com carinho e gratidão do primeiro chefe que tive quando comecei minha carreira. O mundo do trabalho era o que eu aprendi ao ver a relação do meu pai com o trabalho: contador, de gravata saindo cedo e sem hora para chegar, contando causos e situações vividas com o Dr. Fulano ou o Dr. Ciclano. “Manda quem pode e obedece quem tem juízo, minha filha…” Havia tanta autoridade e formalidade nas histórias, que tudo que eu esperava encontrar era um ambiente sisudo e pouco estimulador, como um martírio obrigatório a se passar por anos e anos antes de alcançar a sonhada aposentadoria. Isso há 20 anos atrás…

 

Iniciei a carreira como estagiária em uma grande indústria, e meu chefe (termos como gestor ou líder eram pouco utilizados) me ensinou muito e transmitiu sua experiência com generosidade visando meu aprendizado, ainda que dentro da forma que ele acreditava ser a correta.

 

Era uma figura admirada na época por feitos e comportamentos impensados para os padrões atuais: controlava nos mínimos detalhes a carga horária de trabalho; definia intervalos pré-determinados para café e fora destes brincadeiras eram proibidas; demandava atividades com alto nível de “diretividade” e sem muito espaço para contribuição da equipe (exceto se você tivesse anos de experiência); não reconhecia necessidades individuais nem a diversidade da equipe; tratava as informações sobre a estratégia da empresa e da área como segredos de estado; nunca deixava sua equipe se apresentar aos altos escalões da companhia (e eram muitos escalões). Adicionalmente fumava muito dentro do escritório independentemente das queixas quanto à fumaça e odor do tabaco, e o mal que isso causava.

 

Ao longo dos últimos 25 anos assisti a uma rápida evolução dos ambientes de trabalho (ainda bem), porém esta evolução não se apresenta no mesmo ritmo nem da mesma forma para todas empresas e todos os líderes. Mas é inegável que a história contada acima choca os Millenials e a Geração Z que junto com Baby Boomers e a Geração X ocupam e constroem os novos ambientes de trabalho, numa configuração sem referenciais na história humana.

 

A evolução da tecnologia, a digitalização, a globalização e a longevidade da população, iniciados nas duas últimas décadas do século XX e intensificados no início do século XXI, geraram fenômenos nunca vividos pela humanidade, e causam impactos sociais, econômicos, políticos (e mais recentemente na saúde).

 

No mundo organizacional estes fenômenos geraram nas últimas duas décadas profundas transformações para as organizações, em seus quatro níveis:

 
 
 
 

Recursos: o que há de mais concreto na organização, como capital, equipamentos e sistemas. Passaram a ser geridos a partir dos paradigmas da sustentabilidade e da preservação do planeta (ainda bem!)

 

Processos: elementos mais racionais e passíveis de estruturação. São cada vez mais simplificados e ágeis, transformados para promover transparência, descentralização e respeitar diversidades.

 

Relações: a dimensão mais subjetiva, que ganha vida através das pessoas. As relações tornaram-se mais horizontais, não-hierárquicas e informais.

 

Identidade: o que é arquetípico, ou seja, está por trás de tudo que acontece na empresa (quer tenhamos consciência dela ou não). Todas estas transformações recentes têm se materializado em declarações de Propósito e Visão de Futuro que contemplam não só a perenidade da empresa como também sua contribuição para o ecossistema em que se insere e seu papel social.

 

Neste contexto, os papéis da liderança nas organizações assumiram novos contornos e foram ressignificados. Num mundo de fluidez e imprevisibilidade, emerge a necessidade de um Líder Integrador, capaz de mobilizar, inspirar e desenvolver o seu entorno. Este líder é chamado a exercer 3 diferentes papéis, conforme imagem a seguir:

 
 

A função essencial do líder fazendo a gestão do dia a dia permanece, porém resignificada, equilibrando recursos, processos e relações para manutenção dos resultados. Para além da gestão, o líder é a grande via de desenvolvimento das pessoas e de um bom ambiente de trabalho, estimulando a autonomia e promovendo oportunidades de aprendizado, gerando assim maior engajamento. E como o principal representante do propósito e da identidade da organização para seu time, o líder inspira e mobiliza as pessoas em direção ao futuro desejado.

 

Vamos detalhar cada um destes papéis…

 

No papel de gestor, o líder age para direcionar a equipe com foco nos resultados, performando todas as atividades inerentes a seu cargo e área na estrutura organizacional.

 

Aqui é mais comum que assuma um papel diretivo, de instrução, de dar o caminho e apontar as possíveis soluções. Tenho visto com frequência uma “estereotipação” deste papel do líder, como se fosse ruim ou desnecessário. Porém o que é ruim é atuar somente neste papel, em todas as situações, exatamente como eram os modelos passados. Um bom gestor continua essencial para as organizações, o cuidado aqui é para o líder perceber quando sua ação como gestor é necessária, e quando ele pode abrir espaço para dar mais autonomia para as pessoas descobrirem seus próprios caminhos. Quando atua com eficiência no papel de gestor, o líder permite que sua equipe estabeleça com a organização um vínculo baseado em segurança (tenho os meios que preciso para fazer meu trabalho) e dedicação (os processos me permitem ser produtivo, sem desgaste ou retrabalho).

 

Para além do foco nos resultados, o segundo papel do líder é gerir e desenvolver pessoas. Diariamente o líder contribui (ou não) para o crescimento e o desenvolvimento de sua equipe, gerando experiências de aprendizado e troca, desafiando o time a descobrir novas formas de atuar, e promovendo relações saudáveis. A qualidade das interações que tem e promove é determinante para que ter sucesso neste papel. Quando assume sua responsabilidade no desenvolvimento das pessoas, o líder promove o engajamento genuíno de sua equipe com a organização, gerando um espaço saudável para as pessoas se relacionarem, aprenderem e se desenvolverem profissional e pessoalmente.

 

E por último o mais importante! O papel central de mobilizador coloca o líder como o principal representante do propósito da organização para seu time, mobilizando as pessoas na direção desejada. Ao representar e materializar a cultura da empresa para sua equipe, através de seu exemplo e atuação, o líder tangibiliza o propósito, a estratégia, a visão de futuro. Com certeza você já ouviu histórias de pessoas que receberam propostas de trabalho com uma melhor remuneração em outra empresa, e optaram por permanecer na organização atual por terem uma profunda identificação com ela. Quando assume o papel de mobilizador o líder propicia o vínculo mais profundo que alguém pode ter, que é o da identificação.

 

E como ficam estes papéis na gestão remota ou híbrida?

 

Já antes da pandemia havia um cenário de rápida transformação dos ambientes organizacionais. Por exemplo, muitas empresas haviam iniciado ou consolidado processos de Transformação Digital e adoção de Modelos Ágeis de Trabalho. Neste contexto, já era exigida a capacidade do líder de atuar com modelos flexíveis e trabalho remoto, quer seja na modalidade híbrida ou 100% virtual.

 

O cenário de pandemia só acelerou uma tendência que já se manifestava há uma década, exigindo uma rápida adaptação daqueles que ainda não haviam acordado para esta necessidade.

 

Há que se reconhecer que desde março de 2020 muitos não estão simplesmente em home-office, e sim numa situação atípica de trabalho, em espaços nem sempre adequados, com interrupções familiares, ansiedade e medo, e toda uma sorte de desafios pessoais e únicos.

 

Por isso a visão integrada de cada indivíduo que compõe sua equipe é ainda mais necessária, compreendendo que em cada um há um universo sendo transformado e impactado, a cada dia, de forma pessoal e única.

 

Autoria de Fernanda Mendes. Apaixonada por Desenvolvimento, Gestão de Mudança e Liderança. Coach Executiva e Mentora de RH. Mãe💙 e malabarista de desafios, buscando equilíbrio entre Pensar, Sentir e Querer.

 

Referências

 

1. Moggi, Jair & Burkhard, Daniel. O Espírito Transformador. Editora Antroposófica.

 

2. Walberg, Bernhard. O Executivo Consultor. Editora Banny.

Processos: elementos mais racionais e passíveis de estruturação. São cada vez mais simplificados e ágeis, transformados para promover transparência, descentralização e respeitar diversidades.

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